A crise que o País enfrenta principalmente a partir do último trimestre de 2014 exige mudanças rápidas e substanciais por parte das empresas. “Quem não fizer ajustes, não fugir dos empréstimos, não fizer cortes e não investir na contínua profissionalização da sua equipe e do seu negócio terá séria dificuldade de se manter no mercado”. Esse foi um dos alertas que fez, durante a abertura do 1º Seminário Regional de Serviço de Proteção ao Crédito, o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior.
Roque mostrou números que revelam a difícil realidade nacional, que precisa ser compreendida pelos empresários para que promovam ajustes urgentes. Atualmente, 40% da população ativa do País tem algum tipo de restrição ao crédito, e dois milhões desses consumidores entraram para essa estatística apenas nos últimos dois anos. “Significa dizer que mais de 56 milhões de pessoas, por um problema ou outro, não podem comprar no comércio a prazo. É um universo expressivo, por isso todo cuidado é pouco e o SPC torna-se uma ferramenta ainda mais fundamental às empresas”, conforme Roque.
O presidente do SPC Brasil fez uma recuperação da história recente do País para justificar a necessidade de ajustes e cortes por parte das empresas, independentemente do porte e do ramo. O PIB de 2015 deverá ser negativo em 2% e isso provoca efeitos em cascata em toda a economia. Há forte tendência de desaquecimento e o cenário não é dos mais favoráveis para o próximo ano. Os fatores mais preocupantes são, além do encolhimento do Produto Interno Bruto, desemprego crescente, queda da confiança na economia, inflação em alta e recuo no comércio e na produção industrial.
Externos
Há outros aspectos externos que complicam ainda mais o panorama, de acordo com Roque. Ele se refere principalmente à retração da renda disponível das famílias. Existem as despesas fixas, das quais não se pode fugir, e o que sobra é o disponível para outros investimentos e gastos. Entretanto, esse valor não ultrapassa os 20% do orçamento da família. O desemprego registrado em junho último é o pior desde 1992, com fechamento de 111 mil postos de trabalho em todo o País. Uma das consequências disso é a queda nas vendas do varejo, que acumula pior resultado desde 2012.
A retração no setor industrial é de 5,3% somente nos últimos 12 meses e, em um ambiente de insegurança, o consumidor não compra. “Não faz novas dívidas porque não sabe se estará empregado e terá renda amanhã”, conforme Roque. A inflação alta, acima dos 9%, gera impacto direto na renda real disponível dos compradores. “A equação não é o fato de simplesmente não querer comprar, mas de não poder consumir”, alerta o presidente do SPC Brasil. Hoje, as pessoas precisam de mais dinheiro para comprar menos.
Alguns recursos que o governo costuma empregar para frear momentos de dificuldades econômicas não têm se mostrado eficientes particularmente nos últimos meses. Exemplo é o aumento da taxa Selic para conter a inflação. Sem saída, os empresários, com seus custos e tarifas severamente ampliados, não encontram alternativa senão repassar esse aumento aos consumidores, que têm salários reajustados perto ou pelo índice da inflação. O atual é o pior dos índices em oito anos no fechamento de micros e pequenas empresas.
Crédito
Roque Pellizzaro Júnior informou que o endividamento das famílias está estagnado, entretanto elas não possuem dinheiro para novos financiamentos. A exceção é o pagamento das parcelas da casa própria. “Inflação e juros nas alturas são ingredientes que em economia se assemelham à areia movediça, de onde dificilmente quem caiu consegue sair”. Até nas contas de água e luz há inadimplência e isso, quando ocorre, conforme o presidente do SPC Brasil, requer cuidados redobrados, porque essas, ao lado da alimentação, são despesas que as famílias geralmente evitam a todo custo cortar.
Inadimplência
A inadimplência cresce no Brasil nos últimos anos. Em 2013, o índice nacional foi de 2,12%, em 2014 de 4,07% e agora está em 6,65%. E ela deverá seguir na ascendente, afirma Roque. Pesquisa recente indica que 48% dos empresários estão pessimistas quanto à economia brasileira, porém a maioria está otimista com o seu negócio. “O consumidor mudou e as empresas precisam acompanhar esse movimento. Por isso, o SPC oferece, diante das oscilações de cenário, produtos novos e que atendam da melhor forma possível a necessidade de cada empresa”.
O ano de 2015, prossegue Roque, é de ajustes. É hora de reestruturar capital de giro e vender patrimônio se for necessário para evitar financiamentos bancários a juros excessivos. A redução de custos deve ser uma constante, bem como a melhoria da concessão de crédito. “Pior que não vender é vender e não receber”, disse o presidente do SPC Brasil em alusão a uma frase que aprendeu do pai, um comércio de sucesso do interior paulista. Diante de todo esse cenário, conforme ele, é fundamental que as associações comerciais e as empresas se integrem ainda mais ao SPC, conheçam os seus produtos e as novas ferramentas para evitar a inadimplência.
Ajuda
O presidente da BCF, Base de Centralizadora Faciap de Proteção ao Crédito, Edson Araújo Filho, considera que o desafio do SPC e de seus agentes é de entender e de interpretar cenários como esse e criar mecanismos de proteção às empresas, bem como à geração de empregos e às riquezas produzidas no Estado. Presidentes de entidades empresariais também participaram, com opiniões sobre o atual momento econômico brasileiro e tendências, em um fórum logo depois da fala de Roque. O 1º Seminário Regional de SPC reuniu diretores, executivos e colaboradores de associações comerciais de cidades do Sul do País. Ele é organizado pelo SPC Brasil, Faciap e Caciopar e foi realizado na terça e quarta-feira, na Acic, em Cascavel.
Assessoria de Imprensa da Caciopar/Foto: Fábio Conterno